segunda-feira, 14 de maio de 2012

Uma narrativa que virou poema

Ele estava sozinho agora
diferente de outrora
agora pouco...
quando os festejos ainda viviam.

Seus filhos dormiam
dois meninos,um de treze
o outro de oito anos.
Sua mulher agora dormia
bêbada em seu sono.

Ele ficou ali,acordado
admirando espantado a faixa:
"Feliz 45 anos!"

"Desde quando eu tenho 45 anos...?
ontem mesmo eu tinha VINTE!!"
pensou ele,perdido no tempo.

Olhou pela janela e viu carros
sentiu o peso da idade
e afogado em nostalgia
foi atacado por memórias.

Lembrou-se do pai Coronel,
Homem frio e de porte honorável.
Lembrou da educação rígida
e das surras que tomava.
Odiou-o naquele momento.

Pensou na mãe,mulher gentil
bem humorada
sempre sorrindo.

Lembrou do pai bêbado
e das surras que sua mãe tomava.
Odiou-o mais uma vez
e o amaldiçoou.

Chorou e seus olhos arderam,
há tempos não chorava.
"Devo estar bêbado!"
disse ele
enquanto secava as lágrimas.

Ficou parado ali,no sofá
embalado pelo "tic tac" do relógio.
remoeu a infância em sua mente;
fechou os punhos e rangeu os dentes
e atirou o relógio da janela aberta.
O "tic tac" pode ser opressor.

E olhando da janela pensou:
"O tempo voa..."
sorriu com a piada.
" e voa mesmo..."
pensou triste.

Lembrou-se da mulher
de quando a conheceu
de como ela era jovem
linda e bem vestida.

Olhou para ela agora
e a viu velha
grisalha e trajada
num roupão encardido.
Enojou-se.

Enojou-se de novo 
por pensar assim.
Olhou os filhos
e viu-se neles,reflexos
dos mesmos erros
mesmas certezas.

Viu os filhos com 45 anos
remoendo dores antigas
e sentiu pena deles.
Pena de si mesmo.

Pegou um álbum de fotos 
e a cada foto vista
uma memória revivida
e a cada renascer ele morria
se matava.
afogava em nostalgia,saudade
e um pouco de arrependimento.

Lembrou dos amigos,todos eles
desde a infância até
a vida adulta.
pobres ou ricos
velhos e novos
negros e brancos
gordos e magros.

E lembrou da vida,
da rebeldia,da bebedeira
sentiu-se inútil.

E então ele lembrou do mais dolorido
o que todo dia é esquecido
lembrou de si mesmo.

De ser JOVEM e esbelto
magro e não gordo(JOVEM)
malandro,não tolo(JOVEM)
das namoradas(JOVEM)
das brincadeiras(JOVEM)
JOVEMJOVEMJOVEMJOVEM
JOVEMJOVEMJOVEM!!!

Chorou ao encarar o espelho
sentiu pena da imagem
mas logo...odiou-se.
ou melhor,odiou a imagem.

Viu o pai no reflexo
viu sua mãe ferida
viu os filhos futuros
já crescidos,já velhos.
viu a mulher gasta...

E com a mão nua
quebrou o espelho,
acordou a todos.

E em meio a lágrimas ardentes
e perguntas de tom carinhoso...
"está tudo bem?"
disse apenas:"está sim"
e foi dormir.

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