segunda-feira, 14 de maio de 2012

Templo

I.  
Por fora era bela
porte de igreja,charme de capela
estatuas góticas
de anjos e santos
feitas de mármore,
marfim,madeira 
e ouro.
Era perfeita ao barroco
num misto de europeu e sertão.
Igreja,capela
praça de são pedro
cistina.

II.
A porta de carvalho
vira ripa de madeira
lenha de fogueira
e o que era belo vira feio
o sacro vira pagão
anjo vira demônio
santo vira anticristo.
As orações corruptas
escorrem pelas paredes
virtudes tornadas pecados
relicários,peso de papel.
Sacerdotes em mantos sagrados
cantam feitiços pagãos
confessionários abertos
terço pela metade
ou um quarto,um quinto.
Fiéis vestidos de ovelha
conduzidos pelo pastor
para o matadouro prometido.

III.
Terão suas lãs raspadas
suas carnes cortadas
cascos algemados
gorduras medidas,rosto cuspido.
Terão o sangue bebido
e um clone gerado,
sua identidade será roubada
e feita dupla.
E o pastor sádico olha de longe
ao lado do cão feroz
que ladra leis,
ao passo que porcos
preguiçosos,preconceituosos
apontam,riem e julgam
e protegidos pelo CÃO
também agridem.

IV.
Muitos morrem no matadouro
dezenas morrem de fome
duzias morrem de câncer
centenas morrem de doença
milhares morrem de medo
e milhões apenas morrem
e morrer de amor?
de amor não
"amor" é coisa de poeta
só se vê em verso
a prosa é egoísta,ou muito tímida
tem amor sim,mas não compartilha
não sente como o poema.

V.
Deus morreu,suicidou-se
tomou veneno e foi-se
ou,com uma arma
meteu uma bala nos dentes
que furou a garganta
o céu da boca,e os miolos.
Em seu lugar,pôs a Ciência
sua prima capenga
que na infância caçoava 
de sua cegueira, surdez
mudes e preguiça.
Ela desejava seus templos
e agora os tem
e como antes...
as ovelhas se matam e mutilam
o pastor assiste
o cão vira o rosto
e o porco ri.

Os dias passam.

nuvens que passam
e andam peregrinas
solitárias na conjunta marcha
andarilhas.

E olham do alto
para o chão,acham meus olhos
e convidativas dizem:
"venha para o alto,marche conosco!"

e triste,em resposta digo:
"minhas amigas,supero o desejo
de andar pelo vento

Mas ainda é cedo,não é minha hora
não é o momento,não é agora
mas há sim,de chegar o tempo"

5segundos

Mortos que andam
que falam e discursam
que dançam e atuam
que cantam e riem
mortos que vivem.

Pois a vida não passa de morte
e os vivos de mortos
vazios e já comidos
digeridos, pútridos!

De todos os tipos
finos e largos
todos de fim amargo.

e esse poema também morre
a vida sempre corre

ao lado do tempo,que também morre.

Uma narrativa que virou poema

Ele estava sozinho agora
diferente de outrora
agora pouco...
quando os festejos ainda viviam.

Seus filhos dormiam
dois meninos,um de treze
o outro de oito anos.
Sua mulher agora dormia
bêbada em seu sono.

Ele ficou ali,acordado
admirando espantado a faixa:
"Feliz 45 anos!"

"Desde quando eu tenho 45 anos...?
ontem mesmo eu tinha VINTE!!"
pensou ele,perdido no tempo.

Olhou pela janela e viu carros
sentiu o peso da idade
e afogado em nostalgia
foi atacado por memórias.

Lembrou-se do pai Coronel,
Homem frio e de porte honorável.
Lembrou da educação rígida
e das surras que tomava.
Odiou-o naquele momento.

Pensou na mãe,mulher gentil
bem humorada
sempre sorrindo.

Lembrou do pai bêbado
e das surras que sua mãe tomava.
Odiou-o mais uma vez
e o amaldiçoou.

Chorou e seus olhos arderam,
há tempos não chorava.
"Devo estar bêbado!"
disse ele
enquanto secava as lágrimas.

Ficou parado ali,no sofá
embalado pelo "tic tac" do relógio.
remoeu a infância em sua mente;
fechou os punhos e rangeu os dentes
e atirou o relógio da janela aberta.
O "tic tac" pode ser opressor.

E olhando da janela pensou:
"O tempo voa..."
sorriu com a piada.
" e voa mesmo..."
pensou triste.

Lembrou-se da mulher
de quando a conheceu
de como ela era jovem
linda e bem vestida.

Olhou para ela agora
e a viu velha
grisalha e trajada
num roupão encardido.
Enojou-se.

Enojou-se de novo 
por pensar assim.
Olhou os filhos
e viu-se neles,reflexos
dos mesmos erros
mesmas certezas.

Viu os filhos com 45 anos
remoendo dores antigas
e sentiu pena deles.
Pena de si mesmo.

Pegou um álbum de fotos 
e a cada foto vista
uma memória revivida
e a cada renascer ele morria
se matava.
afogava em nostalgia,saudade
e um pouco de arrependimento.

Lembrou dos amigos,todos eles
desde a infância até
a vida adulta.
pobres ou ricos
velhos e novos
negros e brancos
gordos e magros.

E lembrou da vida,
da rebeldia,da bebedeira
sentiu-se inútil.

E então ele lembrou do mais dolorido
o que todo dia é esquecido
lembrou de si mesmo.

De ser JOVEM e esbelto
magro e não gordo(JOVEM)
malandro,não tolo(JOVEM)
das namoradas(JOVEM)
das brincadeiras(JOVEM)
JOVEMJOVEMJOVEMJOVEM
JOVEMJOVEMJOVEM!!!

Chorou ao encarar o espelho
sentiu pena da imagem
mas logo...odiou-se.
ou melhor,odiou a imagem.

Viu o pai no reflexo
viu sua mãe ferida
viu os filhos futuros
já crescidos,já velhos.
viu a mulher gasta...

E com a mão nua
quebrou o espelho,
acordou a todos.

E em meio a lágrimas ardentes
e perguntas de tom carinhoso...
"está tudo bem?"
disse apenas:"está sim"
e foi dormir.

O mundo

O mundo,nosso mundo
é grande demais
pra ser admirado assim
da janela de casa
do apartamento.

Grande demais e repleto demais
para meus pés pararem
satisfeitos,na varanda,
no quintal,na sacada.

Grande demais pra ser limitado
no porta retrato
na moldura.
Os olhos e a mente
são famintos demais
para ficarem fechados.

Abra os olhos e a mente
veja o mundo!
fuja das janelas
corra da satisfação
da varanda,do quintal
PULE da sacada

Caia no mundo
nosso mundo
seu mundo

sábado, 12 de maio de 2012

Você!!

É,VOCÊ MESMO!!
que fala de paz e tolerância
com sua pistola na mão
munido de opressão
e escudo de preconceitos

Você que prega igualdade
mas olha demais as cores e "teres"
se é que me entende.

Você que se assume forte
alto,poderoso e intocável.
eu sei que você teme a morte
o julgamento, o inferno.
você me teme

Você que diz amar os pobres
e não os olha nos olhos
por que?
você acha que desaparecerão? 

é,você ai,se achando o máximo
dono de tudo,todos,até da verdade
eu sei que você tem medo da solidão
do escuro,e do bixo-papão
você me teme.

Você que jura viver das leis
pelas leis,SENDO as leis.
mas suborna e mente
promete e não cumpre
jura em falso

Você que proíbe o que não conhece
você me teme,sei que teme
por eu ser o desconhecido
por eu ser o proibido 

Você ai que diz não julgar
e bate um martelo fictício
de juiz falso,e aponta um falso culpado

Você que não tem ganancia
e sela a carteira e bolso
com corrente e cadeado

Você que odeia a violência
e apoia a policia
eles te protegem
você os treina como cães
você e seus cães,me temem
por eu ser imortal
por eu ser ideal

Você que doa pra campanhas
contra a fome,só o minimo
pra gastar em festas.

Você ai que jura lealdade
mas toda mulher que passa
você estupra em pensamento

Você que diz:"deus está do meu lado!"
e rouba dinheiro
torna o humilde em enganado.

Tô falando com você: Selfmade man
você sonho americano
você republicano e falso democrata
com você POLITICA
e com você RELIGIÃO

e com vocês também: Hipocrisia,conformidade
opressor e autoridade

ESSE É O POEMA DA DESPEDIDA


Seca

Perda de sangue
chora o mangue
seco de desejos
mar de caranguejos
também mortos
também secos
de H2O e desejos
no calor do sol
cangaceiro,sertanejo

Chora o mangue
não em sangue
lágrimas de sal e açúcar

De um lado,mar de caranguejos
abandonados,entre a onda,
a areia e os anseios

Do outro,os urubus
vultos em eterno luto

Sal e açúcar
açúcar e sal
chora o mangue
nem por bem,nem por mal
nem em sangue,sal e açúcar
nem em cachaça,fermentada
no intenso lampejo
do sol sertanejo

De sertão ao mangue
do choro,a rouquidão
de vida e de morte
sempre
sempre
sempre
severina.

Do barulho/Do silencio

SILENCIO!!
é pedir demais?
que haja silencio
e um pouco de paz?

pela normalidade
eu peço por barulho
cinza da cidade
som grave e agudo

Mas eu vejo gente tagarelar
e meu passo eu ando~
PUTO ao caminhar

pois desejo que o som pare
a fala emudeça
e o caos acabe
___________________________________________

Na quietude de tudo
perco o pensamento
e em silencio refuto
sobre o firmamento

e triste concluo:
que de firme não há nada
nem rima desperdiçada
que rime em "concluo"

sem titulo

Não tenho a intenção de viver muito
não que eu odeie a vida,
só não suporto a ideia
de ficar velho
de ficar preso.
na verdade,eu amo a vida.

Eu vivo porque vivo
somente por viver,
de fato, amo tanto o ato de viver
que sou incapaz de partilha-lo
de dividir com um terceiro
seja esse: um filho
um amigo
pai
mãe
...

Ou,tenho medo de cobiçar
e desejar a vida alheia
a ponto de me perder
e não saber,o que é meu
ou o que eu sou.

Eu sou bem egoísta
Sou viciado em oxigênio
e morro aos poucos
tragando veneno 
da vida.