Carta aos burgueses.
Não há limites para a alegria do peito libertário ao apontar teus valores como perversões do real sentido de liberdade, que move esta caneta, que nos faz levantar contra o que nos fere, e principalmente: que causa tanto medo em seus corações abalados e mentes frágeis. Vocês temem o que não conhecem e o que não imaginam ser real.
A família, teu ensaio de relação humana, o tão precioso núcleo dos teus preciosos valores, é a forma corrompida do amor. O que deveria ser livre do toque bruto da realidade é acorrentado e posto em uma gaiola perante sua implacável burocracia, seus acordos e contratos maléficos. Aos teus olhos,o amor é parte do mercado dos mil feriados. E aquilo que é a "família" é esse "amor" em forma de corrente, que prende um ao outro e o torna obrigatório, como os grilhões que uniformizam o passo dos prisoneiros.
A fé, mais do que uma perversão, é aquilo que nos perverte. Se aproveita do nosso maior medo e o estimula com ameaças de castigos terríveis por toda a eternidade, de horrores nunca vistos em terra, com mais uma prisão. E quando abrimos a boca para,finalmente, gritar em desespero e pavor, aproveitam a abertura para enfiar goela a baixo as suas orações e sua moral bem ensaiada,porém corrompida, seus valores tão antigos quanto a contagem do tempo. A fé é o ciúme que aponta a seus rivais em potencial e os julga perigosos, dizendo em sua orelha para que se afaste e te oferece recompensas se cumpre bem os seus deveres. Aos olhos de deus,do seu deus, vocês são mascotes a espera de um biscoito.
E a pátria é a perversão da relação humana. Transformam uma multidão de indivíduos únicos, mas que lutam por um bem comum, em um exército de bestas que competem da maneira mais agressiva para brilhar aos olhos de seu país, mais importante: brilhar o suficiente para ofuscar a imagem dos outros.
O grande truque é vesti-los em uniformes iguais, com as mesmas falhas e remendos, e distribuir coleiras mais bonitas aos teus favoritos, alimentar mais os que são os "filhos da pátria", e como filhos, protegem seu "pai".Tornando-se aqueles de uniforme diferente, e que agridem os que tem uniformes comuns, coleiras feias e pouca alimentação, fracos e dispersos demais para lutar. E se mesmo assim o excluídos passam a ser vitoriosos, a pátria arma seus amados filhos, e deus os abençoa com a falta de consciência.